45 GRAUS
 

A partir de "A Dócil"de Dostoiévski

 

 

Idealização: Màli Teatro
Direção: Marcos de Andrade
Elenco: Antonio de Campos, Anísio Serafim, Carol Marques da Costa, Guta Magnani, Gustavo Trestini e Marcelo Villas Boas
Adaptação: Marcos de Andrade e Rogério Guarapiran
Textos originais: Marcos de Andrade e Rogério Guarapiran
Dramaturgista: Rogério Guarapiran
Assistente de Direção: Paula Martins
Direção de Arte: Lívia Loureiro
Assistente de Cenografia: Anísio Serafim e Paula Martins
Design de som e operação de som: João Baracho e Edézio Aragão
Design e operação de luz: Osvaldo Gazotti
Desenho do ícone: Léia Izumi
Fotos: Marcelo Villas Boas e Ronaldo Dimmer
Desenho do ícone: Léia Izumi
Produção Executiva: Marcelo Leão
Produção: Anayan Moretto

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Em um casarão centenário no centro de São Paulo, convivem personagens separados por décadas no tempo. A presença dos que ali viveram na década de 30 do século passado ecoa, influencia e é influenciada de maneiras distintas por personagens que viverão ali no XXI. Inspirado livremente em “A Dócil” de  Dostoiévski, 45 GRAUS é a primeira montagem do Màli Teatro e a primeira direção de Marcos de Andrade.

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45 GRAUS é o nome da primeira peça do Màli Teatro. Inspirada livremente na novela “A Dócil”, de Fiódor Dostoiévski, a obra foi, por um lado, adaptada, gerando um “primeiro ato” com a nossa versão dos fatos da novela e por outro lado, serviu de disparador dramatúrgico para a criação de um “segundo ato” original. A peça apresenta dois movimentos dramáticos, separados pelo tempo, pois o “primeiro ato” se passa no início do século XX e o segundo, no século XXI. Personagens do “segundo ato” coabitam o mesmo casarão onde se passou a primeira narrativa.
 

Como adaptar um clássico? Uma possível resposta é: não adaptar, mas tentar abrir fissuras para o não conhecido e, a partir daí, estabelecer contatos com o contemporâneo. Dostoiévski, autor de “A Dócil”, novela que é o disparador de nossa peça, partiu de um fato real. Leu uma notinha em um jornal sobre uma jovem e miserável costureira que havia se matado. O ícone religioso encontrado nas mãos da jovem foi o bastante para estarrece-lo. Tratava-se de um ato e uma imagem que evoluíam, com uma aura de mistério secular, para uma síntese de enigma puro, principalmente para um escritor que, como diz Vadim Nikitin,
tradutor da novela, procurava “na combinação tensa entre o jornalista e o narrador, investigar a realidade com os olhos postos na urgência do dia”. A linguagem da rua, a cidade e a arquitetura eram caras a Dostoievski. Sua “prosa gaga” parecia sintetizar em literatura o que ele sentia do cotidiano: o ambiente urbano, ebulitivo, fantasmagórico e polifônico. O mundo em mudança. Não há como não identificar nossa São Paulo de 2019 com sua São Petersburgo do final do século XIX. Não há como não relacionar os vestígios de um tempo no outro. A relação entre um autor que está escrevendo uma novela em 1874 na Rússia, um penhorista com sua jovem esposa na década de 30 do século XX no Brasil, ao mesmo tempo em que um grupo cria uma peça de teatro no centro de uma das maiores cidades da América Latina em pleno século XXI, utiliza de raciocínios quânticos sobre a matéria do tempo e do espaço. Casarões centenários espalhados pela cidade que sobrevivem à passagem do tempo e que carregam em si carga de tantas histórias, sons que vagam pelo espaço e se perdem no universo. Não fosse o espanto de Dostoiévski com o suicídio da menina, sua memória estaria vagando perdida como tantas. O suicídio é a segunda causa de morte entre pessoas de 16 a 29 anos. No mundo, a cada 40 segundos, uma pessoa resolve interromper a própria vida. Pouco se sabe sobre essas mortes dado o receio de que a divulgação possa incentivar novas tentativas. A memória dessas pessoas torna-se nebulosa, como se tivessem sido condenadas a percorrer pelo limbo, do mesmo modo como viveram seus últimos meses antes do ato fatal. Fantasmáticas em vida, entram para a eternidade como se suas mortes não tivessem acontecido.

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